8.8.08

V

Pensando sobre o dinheiro, esqueceu do tempo. Lembrava de cada hora perdida no quarto imaginando o futuro grandioso reservado a ele. Um futuro custando a chegar. No momento duvidava, já, de que se concretizaria. E pensando assim, uma sensação de insuficiente ar o deixava tonto, uma infinidade de minúsculos quadrados coloridos embaralhavam sua visão e o ambiente aquietava-se. Durante quase meia hora ficou naquele estado. Era quase um transe. Bernardo gostava daquilo. Eram minutos de solidão. Apesar do mal estar, sentia conforto pela incomunicabilidade. Naquele estado, afastado de tudo e apenas com a tontura, tinha um álibi momentâneo para não pensar mais no dinheiro, no futuro.
Esperava o futuro grandioso, deitado em sua cama. Futuro de reconhecimento por sua inteligência. Considerava-se um raso conhecedor de variados assuntos e nisso guardava sua certeza de sucesso. Leitor de jornais e livros e simpático. Acima de tudo simpático, o que lhe permitia circular por altos círculos acadêmicos e artísticos. Mas, seu gosto pela cama, pelo quarto e pela noite, tolhiam um pretenso sucesso inicial com quem quer que fosse. Noites mal dormidas, manhãs dormidas demais e a bebida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse está muito bom, Bernardo. E sabia que tens sucesso garantido. Garantido por pessoas desconhecidas e marginalizadas, sucesso julgado por quem é da rua e que pode sim caracterizá-lo como um homem de sucesso. Sucesso por suas virtudes que só esses anjos sem asas podem ver - pensamento meu: você é um ótimo escritor. O resto é o que nos faz ganhar dinheiro e nos sentir bem por poder comer uma comida com mais molho. Ambos importante, mas não igualmente verdadeiros.

J.