26.3.06

Um homem com uma dor (p. leminski)

Um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante
Um indivíduo num quarto escuro, chorando amargamente o que acaba de fazer. É tamanha a angústia sua, que, suas lágrimas secam antes mesmo de rolarem ao rosto, e, assim, os olhos tornan-se cada vez mais salgados.
O rapaz não queria ter cometido tal atrocidade, ele REALMENTE não queria; mesmo assim o fez - ele matou o outro, esganou-o deliciando-se com cada milímetro de carne, feita em pasta, envolvida por seus delicados dedos e unhas e mãos e braços e tudo mais. Não era necessário, sabia-o muito bem e tinha isso muito claro para ele próprio, não queria, não podia fazer aquilo; não podia!!! porém algo lhe fugira sorrateiramente ao controle, algo muito obscuro a encobrir a clareza tomara-lhe conta da alma.
Matou a sangue frio, sem pensar, sem pesar e sem remorso, esmagando a carne alheia até o ponto de cortar a sua própria com as unhas. Esmagava! Batia! Gritava! Como se lhe houvessem retirado o cérebro e agisse tal qual um peixe, apenas por dolorosos espasmos.

25.3.06

- volto... quem sabe, um dia eu volto. - disse eu - Gostaria muito.