19.11.08


Rão - 9.12.08

9.9.08

X

À merda aquela cana toda, aquele povo faminto a se espremer em um ônibus caindo aos pedaços. O almoço, frio, servido no horário do café-da-manhã de qualquer pessoa normal, à merda ele também. Era o meu quinto ou sexto dia cortando aquela cana toda. E nunca acabava.
Em um dia desses eu desmaiei; a horda de cortadores se engalfinhava em cima de mim pois alguns daquele tipo haviam morrido em pleno expediente, sem aviso prévio, por fadiga ou estresse ou qualquer dessas drogas. Assim como o meu desmaio. Naquele exato momento eu me vi cortando toda aquela cana, de um dourado enegrecido, por séculos. Naquele exato instante enchi o saco; alí caído em meio a tocos de cana, da palha queimada e das cinzas, em meio àquele lugar nojento, quarenta e tantos graus. Quarenta e tantos graus e eu enfiado em cacetadas de roupa. Porque se pode cortar a própria perna com uma lâmina daquele tamanho. E mais essa, ainda por cima. O sol desgraçado queimando meu rosto. Eu olhava para cima e via um bando de mouros. Não tenho a menor intenção de me converter ao islamismo, não tenho. "Saiam daqui!", pensei, "se não houvesse perdido meu facão ao cair, podaria algumas canelas!". Aqueles homens e mulheres desdentados, de faces enrugadas muito precocemente. Todos a empurrar uns aos outros, um rebanho suíno ávido pela carniça jogada ao chão. Vomitei. Vomitei mais uma vez, agora no pé de um deles. Propositalmente. Ele ganiu qualquer coisa que não tomei nota. Foi o primeiro a me dirigir alguma palavra. Todos os outros, imundos de terra vermelha e do carvão da fuligem, balbuciavam opiniões incompreensíveis naquele sotaque interiorano que passava a me irritar, também. Ninguém, inclusive o sortudo de botas sujas, arredava o pé dali. Encarei os da primeira fila, aqueles mais próximos. Quando meu olhar cruzou com o sol, ameacei uma nova investida de meu estômago contra as botas encardidas. Estávamos próximos do meio-dia, o sol como tudo mais alí me era insuportável. Consegui afastá-los aos poucos; a cada nova intenção de regurgito, a gente morena perdia um pouco o interesse ao mesmo tempo que passavam a expressar algum nojo por meu retrato. Notei. Me diverti por alguns minutos. Vomitei nas botas de mais dois peões daqueles. Passaram a me xingar, aqueles putos. Me xingavam e nem sequer estenderam a mão para que eu levantasse. Pus todo meu almoço nos pés daqueles famintos, daqueles porcos. Que fossem escovar os dentes e não me importunassem mais. E se estivessem com fome: alí estava meu almoço.
Aquele dia foi o primeiro de dois ou três dias antes de mandar tudo à merda. Toda aquela cana, aqueles cortadores, o ônibus, o calor, tudo às favas.

25.8.08

IX

Pouco mais de quatro da manhã, em um ônibus. Trinta ou quarenta mulatos de sol cobertos por uma grossa camada de farrapos e algumas lâminas ao chão. Bernardo, sonolento, recostava a cabeça à janela. Um peão de voz renitente e sessenta quilos, insistia em falar sobre a partida do dia anterior. Bernardo demonstrava com sarcasmo seu parco interesse pelo assunto. Ineficaz, continuou vítima dos ensejos de seu colega de banco. Os bruscos movimentos da condução mareando o resquício de vontade de socialização do garoto. E o peão insistia em falar sobre a partida de futebol e Bernardo respondendo monossilábico.
Na briga entre o sono e a pueril amizade, Bernardo chegou à imensidão dourada. Não antes havia se visto submerso em tal cor ondulante. Cada um daqueles do ônibus agarrou um facão e uma trouxa de pano encardido; desceu a breve escada do veículo até pisar a terra roxa. Bernardo seguiu o grupo até que parassem. Em poucos segundos, todos inclusive ele lutavam contra intermináveis ondas de palha.
Bernardo golpeava cada gomo da cana como a um de seus familiares. Apesar de não conhecê-los - nenhum sequer - nutria raiva descomunal por aqueles fantasmas. Descobria a raiva no impacto do ferro afiado contra a vegetação. Cortava pescoços e pernas, o bucho e a mandíbula deles caindo ao chão. E com prazer observava. Perdido em meio às folhas secas, o uníssono ensurdecedor das quarenta lâminas arrebatando pais e mães e irmãs inebriava Bernardo. Sentia-se leve; formigavam suas têmporas e língua. Flutuava submerso naquele mar ouro.
Era o primeiro dos quatro ou cinco dias que persistiria por alí. Passados trinta minutos cortando a cana, estava exausto; em um estado de semi-embriaguez. Não havia comido nada. Já eram seis horas. Seus braços, costas e a região das axilas latejavam, inchadas. Ansiava pelo almoço marcado para as nove e meia.

19.8.08

VIII

Seus olhos ardiam como dois sóis. O gosto do sangue, mais forte do que nunca, lhe subiu à boca. Doía-lhe o peito. O discreto tremor percorria o corpo. Já não era mais tão discreto. A senhora percebeu o comportamento estranho no rapaz. Parou de falar. Deixou o quarto rapidamente. Estava intimamente apavorada. Muito religiosa, sofria de um medo incontrolável em situações bruscas, lugares escuros e na companhia de homens estranhos.
Saiu do quarto deixando Bernardo sozinho. A dor no peito e o sabor de sangue ficaram. Tísico sabor, as lembraças da surra que ele e a menina levaram, no dia em que a velha se mostrara os profundos olhos à sombra do marido, completavam sua mente. O torpor alí, deitado na cama, lhe trazia os olhos da velha. A dor da surra pouco importava. Bernardo e a menina haviam apanhado com a raiva do velho. De punho aberto, as barbas brancas encrespadas esvoaçaram até a moça desvençilhar-se do locatário do quarto. Sinceramente, Bernardo não guardava rancores. Tampouco tentara reagir. O aluguel do quarto era barato. Além do mais, o velho era ligeiramente mais alto do que ele e pesava algo como cem quilos a mais do que ele. O ato coadjuvava na cabeça do rapaz. A garota, que o maldissera e suas quinhentas gerações futuras, era insignificante. Hematomas por todo o corpo de uma pequena e magra moça de seus vinte anos. Branca como a neve, sua pele transformara-se em roxo. Tanto fazia. O quanto Bernardo gastava pela comida, teto e a limpeza das roupas, compesava.

13.8.08

VII

Pensou no velho, na boca sem dentes coberta pelo farto bigode grisalho. Pensou na barba grossa do velho e na saliva gotejando enquanto ele falava alto. Pensou na janela e no batente encardido de terra. A maçaneta rangia junto com a porta a se abrir. Naquele instante, duas horas da tarde quente de inverno, fingiu que dormia. Era mesmo a senhora dona da casa, esposa do velho. Em meio a penumbra e a fumaça do quarto, deitado, Bernardo rosnou e virou-se de lado. A senhora o chamou timidamente, com receio de acordá-lo. Ela falava algo sobre roupas e sobre o cheiro do quarto. Bernardo sentiu alguma culpa por fingir. A senhora era simpática e prestativa, apesar da submissão ao marido. Aquela maldita submissão ao marido. Segurou a respiração por alguns instantes. Repentinamente não prestava atenção em palavra do que era dito pela velha. Abruptamente. Como dinheiro atirado do alto de um prédio na rua Duque de Caxias às seis horas da tarde. Seu leve incomodo subia pelas paredes. Lembrou-se de um dia. Coisa de um mês atrás. As têmporas inflaram. O sangue. Irado, Bernardo mordia os lábios compulsivamente. Levemente, seu corpo inteiro começava a tremer. O dia em que a velha se mostrara. O dia em que ela revelou algo além da cordialidade e do préstimo corriqueiros. Numa das raras ocasiões em que Bernardo conseguira seduzir uma menina, levou-a para o quarto alugado. Eram, ainda, sete horas da noite. O velho costuma chegar às nove; ele trabalha em alguma coisa relacionada a transporte, motorista de táxi, frete ou ônibus urbano, algo do tipo. Pouco importava, o velho costuma chegar às nove e Bernardo resolvera levar a moça para o quarto. Pela maior liberdade com a senhora da casa, pela prestimosidade quase maternal dela para com Bernardo, ele decidira que não haveria maiores problemas em levar a moça até lá e ficar por alguns minutos. Quando assinara o termo de compromisso ao alugar o quarto, o velho havia sido muito claro: - Não é permitida a entrada de estranhos em minha ausência – a ausência do velho. Enfim, levou-a, levou a menina até o lugar. A velha vira os dois entrando e se deu por desentendida. O casal se trancou no quarto. Às oito horas a porta se abriu. Bruscamente alguém a empurrou pelo lado de fora. Barba e bigode dançavam na face transtornada da figura inchada e velha. Esgueirando por trás da porta, a sombra da senhora. Como duas esmeraldas verde-acinzentadas, os olhos dela esbugalhavam ouvindo tudo sem expressão qualquer.

8.8.08

VI

Acordou assustado. Algumas batidas na porta do quarto. Certamente era a mulher do velho gordo; fosse ele, não bateria antes de entrar. Afinal de contas a casa era propriedade do velho. Alí dentro ele encarnava todas as instituições. Fato que irritava deveras a Bernardo. Não haviam sido poucas as ocasiões em que fora surpreendido vestindo-se no quarto; ou ainda comendo bolachas recheadas. Bernardo adorava bolachas recheadas e o velho também. É, pior quando com as bolachas. O velho desatava a xingar o rapaz por sua mesquinharia - Onde já se viu: comer guloseimas escondido; negar comida a quem lhe mantêm. É um absurdo. Moleque desgraçado é você. Vai ver que comida minha mulher servirá na janta. Porque a pior pobreza, moleque, é a pobreza de espírito. Safado, você é pobre como eu, mas esse jeito de fazer as coisas escondido... Ah, isso é coisa que não tolero! E depois ainda reclama de que eu entre sem bater à porta. É um sem-vergonha, um mal caráter dos grandes. - Dizia o velho, em um volume tão alto de voz, beirando os berros, que era impossível contestá-lo. Bernardo sentia-se ultrajado. Aquela boca sem dentes cospindo enquanto o diminuia. Sentia-se o pior dos vermes em tais momentos; e pagava em dia, até aquele momento, as contas - até aquele momento. Punha-se a imaginar quando não mais o fizesse.
Tornaram a bater à porta. Certamente era a mulher do velho. Seu desejo era pular a janela. Aliá, seu desejo era continuar deitado. Mas mandar a velha embora seria um problema ainda maior do que levantar-se. O velho, com certeza, assim que soubesse faria questão de escorraçá-lo. Pensou mais uma vez nas possibilidades, antes de ouvir o ranger da maçaneta.

V

Pensando sobre o dinheiro, esqueceu do tempo. Lembrava de cada hora perdida no quarto imaginando o futuro grandioso reservado a ele. Um futuro custando a chegar. No momento duvidava, já, de que se concretizaria. E pensando assim, uma sensação de insuficiente ar o deixava tonto, uma infinidade de minúsculos quadrados coloridos embaralhavam sua visão e o ambiente aquietava-se. Durante quase meia hora ficou naquele estado. Era quase um transe. Bernardo gostava daquilo. Eram minutos de solidão. Apesar do mal estar, sentia conforto pela incomunicabilidade. Naquele estado, afastado de tudo e apenas com a tontura, tinha um álibi momentâneo para não pensar mais no dinheiro, no futuro.
Esperava o futuro grandioso, deitado em sua cama. Futuro de reconhecimento por sua inteligência. Considerava-se um raso conhecedor de variados assuntos e nisso guardava sua certeza de sucesso. Leitor de jornais e livros e simpático. Acima de tudo simpático, o que lhe permitia circular por altos círculos acadêmicos e artísticos. Mas, seu gosto pela cama, pelo quarto e pela noite, tolhiam um pretenso sucesso inicial com quem quer que fosse. Noites mal dormidas, manhãs dormidas demais e a bebida.

7.8.08

IV

Pensava, no escuro do quarto, o quanto levaria até conseguir algum dinheiro. Ainda guardava trezentos reais, porém o aluguel venceria em pouco mais de uma semana. O velho gordo era rigoroso nas cobranças, mas, como há três meses Bernardo recebera uma grana alta, ainda não havia tido problemas com o homem. Bernardo decidiu mudar-se para lá pela proximidade do bairro com o centro e pelo baixo preço oferecido pelo aluguel do cômodo. Isso quando recebera dinheiro pela última vez. Agora, estava profundamente arrependido com a escolha. Mil e quinhentos paus tinham desaparecido em menos da metade do tempo planejado. Ficava nervoso ao pensar que em alguns dias voltaria à penúria de antes. O nervosismo fazia-o fumar mais. A dor no peito era maior e o cheiro de sangue não cessava. Desde que saíra da periferia da cidade, se instalando naquele quarto, Bernardo não fazia nada além de dormir.

6.8.08

III

Enfim, um quarto sujo com alguns livros e uma televisão, além de uma cama e colchões velhos.
O hóspede fumava muito e o pulmão dava sinais, apesar da pouca idade do garoto. Eis a origem do mal-estar noturno, os cigarros. Na véspera, sentira falta de ar. Logo nas primeiras horas da manhã, ele acendeu um cigarro e a sensação de um soco no pulmão percorrera num frêmito a garganta, chegando rapidamente à boca. Parecia sangue, ou o indício de sangue, a lembrança do cheiro do sangue. Minutos depois sentia uma leve dormência na base da língua. Assustado, não esboçava intenções de procurar ajuda. Acendeu um novo cigarro. O peito doía cada vez mais.

5.8.08

II

No quarto, não havia muita coisa. Logo ao entrar, depara-se com uma cama curta, feita de madeira escura e detalhes em bronze, coberta com dois colchões velhos e um lençol velho e amarelado. Na parede oposta à porta, há uma pequena prateleira fixada e nela alguns livros além de um porta retratos barato; ao lado, uma estante escura pendendo para o lado da cama devido ao peso da televisão e do restante dos livros existentes no quarto que nela estavam. A única janela, alí, era baixa e dava para o portão azul. Por ser baixa, não muito acima da cintura de Bernardo, a janela permitia aos inquilinos do quarto usá-la como saída alternativa; tal ato, praticado com alguma frequência, manchava o batente da abertura e todo o entorno. Aliás, aquele não era o único lugar manchado. A terra vermelha da região é terrível, e as paredes verde-claro e o chão de azulejo branco possuíam muitas manchas avermelhadas, marcas de mãos e pés davam um ar sujo ao cômodo. O único reduto de clareza eram as portas do armário embutido recém pintadas.
Às noites, Bernardo começava a sentir forte falta de ar.

1.8.08

I

Entrou pela porta da casa. Uma porta de serviço, embutida em um grande portão basculante azul claro. A única entrada, pela frente. Uma rua com alguns Fícus pela calçada das casas vizinhas, em um bairro com vocação para a pobreza. Com alguma frequência, à noite, o perfume de fogueira toma o ar da região. Entrou pela porta. Era noite.
Ao pisar no interior do lugar, é inevitável que o cachorro lhe pule nas pernas. Um dálmata muito bem apanhado, alto e forte, com o gênio de uma criança de sete anos. Era apenas chutá-lo para que não incomodasse mais. Foi o que fez. Seguiu pela garagem até a porta da sala; entrou, e atravessando-a na ponta dos pés, chegou até seu quarto. Alugara o cômodo de um casal de velhos. Os dois tinham mais de setenta anos; o marido, sempre mal-humorado e ríspido, era alto e muito gordo e usava farta e longa barba branca.
Bernardo acabava de mudar-se para aquela casa. Sentiu-se mal ao sentar na cama, enquanto descalçava os sapatos.

9.7.08

Você está tomando banho e eu escrevendo aqui para depois descer e fazer uma comida para você ir trabalhar (depois de quase um litro de veneno e eu te enchendo,rs...). Muito bom ter você pertinho assim, acordando com a minha roupa e nosso cheiro...e ver você dando um abraço na pequena, que te adora tanto. Depois de todos os nossos carinhos e seus olhares aconchegantes, não me importo mais com a esperança que o passado tem em você. Sei que estamos juntos, de verdade.
Feliz nosso dia, meu amor!

Te amo e sou completamente apaixonada por você
Todos os meus beijos no seu ;*

26.6.08

E hoje o dia acordei.
Logo pela manhã, uma caminhada até a rodoviária.
Um café, um pão de queijo no balcão de padaria.
Jornal do dia. Uma caminhada até o escritório.
O frio da luz do sol de inverno.

12.6.08

Boal faz escola em Ribeirão Preto

Época de efervescência cultural, intelectual e política, os anos de chumbo influenciam o país até os dias de hoje. Da cultura hippie importada da América do Norte à Tropicalia, do Cinema Novo à Teologia da Libertação, as fortes marcas dos tempos da ditadura no Brasil ainda elegem presidentes e determinam as cores dos cabelos e a música que se ouve.

Augusto Boal, diretor, autor e teórico do teatro, é um dos ícones entre aqueles que rebelaram-se contra o governo militar. Sua obra, não só não pereceu aos tempos de repressão como ganhou o mundo durante o período. Reconhecido internacionalmente por seu Teatro do Oprimido, Boal é o precursor nacional do teatro participativo.

Incitando a tomada de posição pelo público, Boal e seus métodos teatrais, como o 'teatro fórum' e o 'teatro invisível', beiram a pedagogia ao envolverem o espectador na decisão sobre os rumos do espetáculo. No 'teatro invisível', por exemplo, sequer os atores identificam-se como tais. A cena trasncorre imperceptível, em ruas, ônibus, restaurantes, simulando situações contraditórias do cotidiano.

Em uma época em que as vozes eram caladas pelo estampir das armas, o teatro era um viés para o debate de idéias 'subversivas'. Atualmente, 24 anos após a queda do regime militar, quando as vozes se calam, simplesmente, as luzes da ribalta persistem no papel de provocadoras da consciência e da ação social.

Completando seis anos de existência, o projeto Ribeirão em Cena oficializou a inclusão das leitura e discussão sobre atualidades na grade currícular de seu curso de iniciação teatral.

Dentro da disciplina de interpretação, além das atividades e exercícios normais, a professora Gracyela Gitirana lê e discute textos de jornais e revistas com os alunos: "a proposta é acompanhar os principais acontecimentos [...] para que eles [alunos] compreendam a realidade, pra que tomem posição".

As aulas de Gitirana, construidas a partir das teoria e prática de Boal, incorporam exercícios de 'teatro jornal'. O método prevê a construção de cenas apartir da leitura de notícias. "Quando o Gilson [coordenador da ONG] veio com a idéia [das leituras em aula], eu ja trabalhava teatro jornal [com os alunos]", relata a professora. E as novas atividades, segundo Gitirana, completarão lacuna observada em alguns bolsistas: "quando você pede que alguém improvise algo, é preciso que ela tenha uma bagagem [...] e levar isso pro palco", afirma.

Gilson Filho, coordenador do Ribeirão em Cena, propôs a mudança. Segundo ele, a inserção das leituras e debates há muito era ensaiada. "O ator sem informação na consegue produzir, se o ator nao convive com o meio ele nao tem mateiral pra tarabalhar [ e ] acaba copiando o que já viu", resalta.

6.6.08

Bonito dia em que te vi de perto. Pois que de perto as coisas parecem menores. E me apaixonei. Foi de uma força tamanha o instante exato.
Olhei de lado e pensei:
que bom pensar em poder
e do teu lado colher
o que há de certo, o que pode haver

7.5.08

Eu sinto tanta revolta por não controlar o tempo de que disponho contigo que as coisas fundamentais me fogem ainda mais. A saudade que sinto é banal frente a motivos como o olor de teu hálito, a maciez de tua pele e luz do sorriso dos lábios. Ah... E a envergadura dos arcos de teus olhos, arcos de grandeza Jônica. A cada lágrima percebe-se a solidez dos largos pilares que sustentam tua beleza, a cada lágrima percorrendo o rosto, liso e alvo mármore, basal para a pequenez do sorrisinho sem vergonha e que leva-nos a cometer as piores atrocidades.
Ah, pequena, se eu te pudesse neste exato momento... Mas agora é tarde. Só te posso em um tempo que virá. Ah, polaca, e lá, talvez, minha vontade seja, talvez, controlar e controlar uma outra força que não a tua enorme. Talvez e mais uma vez, certamente, será o tempo a força em minha frente. E contra o tempo nada posso não que me debater. Mais uns momentos, então, me debaterão os sentidos frente a ti.
Eu vejo, agora que estou mais calmo, os dedos longelínios e as unhas vermelhas. Sempre que os vejo assim, às unhas rubras, pela força do contraste com a pele branca ou pela rudeza com que as colore, percebo que não só elas estão vermelhas e que a cor transmite calor para suas bordas; e as bordas por sua vez o transmitem um pouquinho mais adiante e aí o calor percorre teu corpo, percorre teu corpo, teu corpo em uma velocidade que não agüenta em ti e me apanha.
Que mais... Ah, pequena! Vejo também, longe dos medos do tempo, teu dorso; altivo e incólume nos momentos solenes das noites em que se exibe ao pobre público, fotogênico porque é a própria fotografia. Enquanto debaixo de um sol sem pretensões... Aí ele guarda, nesses momentos onde não se pretende abrir muito a vista, ele pretende o charme desleixo, uma leve curvatura posterior, quase uma defesa, quase se escondendo, guardando maroto, pueril, os momentos mórbidos para erguer seu brilho expansivo.
Ai... Vejo tanto que não consigo dizer... E é certo que pensas que não sei de nada disso; não sei de cada pinta e cada pelo e do cheiro de cada poro... É verdade que amanhã talvez não saiba mesmo, tanto me debato com o momento de dizer e descobrir cada uma dessas pequenas coisas. Mas minha língua sabe tanto...