29.4.06

As luzes se apagaram e sutilmente a música invadiu o breu. Me preocupava com o que esperavam de nós, e daí é que me atinei para o detalhe de que ruídos indefinidos soavam ao fundo do palco; tentei distingui-los, foi esse meu único pensamento durante boa parte do tempo. Após algumas dezenas de minutos entendi que os ruídos - já não tão indefinidos assim - não eram animados por uma única pessoa - intuí que alguns indivíduos, aos poucos, levantavam-se e caminhavam até onde os sons nasciam. Exatamente, eu também, em algum momento, teria a oportunidade de gerar tais sons; até então minha atenção estava completamente voltada para o som, para a percepção do som, o objetivo clraramente seria perceber e distingui-los.
As músicas de fundo marcavam o tempo. Após algumas delas agradavelmente familiares, sua sequência começou a me incomodar. Elas começavam a repetir.
Fui chamado à fonte dos ruídos. Me foi explicado que deveria sentir os objetos posicionados por sobre as bordas de uma mesa.
Não escutava mais a música.
O primeiro objeto em minhas mãos foram um punhado de pedras de rio. Me lembraram Maciambu.
O segundo objeto de que me lembro foram umas cascas de arvore, as quais também me lembraram muito Maciambú.
Depois lembro-me de uma peça de pelo de algum animal a qual associei, pela leveza do tato e do cheiro, a uns pelegos de ovelha que tinha em casa durante a infância.
O resto foram cheiros dos que, como eu, alí estavam saboreando os sentidos naquela mesa.

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