18.1.06

Fio da meada. Perdi o fio da meada. Não vou mais ao mercado público nem vejo as atendentes da barraquinha; pouco me importam, neste momento, suas características. Da moça de quem deixei de falar sobre, tudo que me resta dizer é que é loira e muito nova, e me pareceu simpática à distância. Mas não me apetece saber mais detalhes dela e da outra mulherzinha e do homem carrancudo da barraquinha do mercado, nem mesmo falar deles ou de qualquer singularidade que possam ter. Hoje, são todos iguais diante de meus olhos, singulares são outros, hoje.
Meu final de semana foi horrível e tenho pensado muito nele durante a semana. Sem fugir à regra as desavenças familiares ditaram o clima em minha casa. Dessa vez foi minha mãe quem deu vazão às suas frustrações, discutindo aos berros com meu avô em plena sala de estar. Como uma criança chorando as faltas de cuidado, ela chorava e gritava fino frente a um pai nada razoável e nutrido de uma postura mais infantil e birrenta que a da filha.
A cena não ficou rodando em meus pensamentos, momentos com esta mesma tonalidade são frequentes na vizinhança; o que me intrigou depois disso tudo, e durante tanto tempo, foi o fato de poucos meses atrás tais ocorrências me chocarem mais e ao mesmo tempo que me encontrava mais fortalecido para encará-las - ao passo que hoje, já não me chamam a atenção sequer sendo que me pegam desprovido de reação racional. E essa merda toda me lembrou de uma outra família, a MINHA família, a que eu constituí e que também era insana, mas era minha e em muitos momentos foi a melhor que já possuí pois os problemas eram meus problemas e estavam à merce das resoluções que eu os desse. "E como eram bons aqueles tempos" fiquei pensando durante uma semana inteira; lembrei de alguns momentos, e deles como os melhores de que posso recordar, os mais felizes e inspiradores. Isso brotado de um péssimo fim de semana em família.
Como dizia o outro "não é possível amar e ser feliz - e ser razoável". Não poderia me deparar com a frase em melhor momento. Ao lembrar da mulher que foi minha mulher, da casa que foi minha casa, e das viagens que fizemos e dos parentes dela que eram meus também, lembrei que acabara de perder o bonde de tudo isso há poucos dias. O bonde com mesmas feições, belo e saudoso e que perdera a marca do tempo, a ferrugem... "Por que fiz isso" fico me perguntando agora. "As coisas mais próximas são aquelas que muitas vezes não conseguimos enxergar", não é verdade? Hein?!
Só me resta, agora que o percebi, correr, correr muito!

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