11.1.06

Acordei. Mais de dez horas da manhã. O sol arde pra burro por aqui e ardem também as coisas todas mais à essa hora do dia. Levantei suando em bicas e cheirando mal, com o cheiro de fumante pela manhã quando transpira muito durante a noite e o suor seca nos lençois. Não tomei banho nem ao menos escovei os dentes, estava com fome e rastejei até a cozinha a procura de um resto de pão do café da manhã. Tomei um copo de leite e voltei rapidamente para o quarto, aquele calor e a luminosidade excessiva não fazem bem quando se acaba de acordar. Voltei para o escuro do quarto.
Após alguns longos minutos peguei todas as coisas e fui até o banheiro que, ao contrário da cozinha, para alcançá-lo não é preciso sair da casa nem tampouco encarar o sol. Fui ao banheiro, escovei os dentes e fiz aquela merda toda que se faz no quando se acorda cheirando mal.
Já eram por volta de onze horas quando saí de lá. Na cozinha nem sinal de que alguém faria almoço, e isso deixa o cidadão maluco; é hora de bater a fome, onze horas da manhã, é hora do estomago lançar os primeiros lamúrios do dia e qualquer um ficaria em estado alterado se, em sua casa, uma empregada paga para isso, para matar a fome das pessoas, e ela não o fizesse - afinal, ela só precisa esquentar a comida, somente esquentar, pois esta tudo na geladeira e além do mais ela é paga para isso. Mas são já onze e meia, quase meio-dia, e nada de sinal de almoço.
Arrumo minhas coisas dentro do quarto ainda escuro, saio para o quintal e subo na bicicleta, aliás, pego um pão com margarina na cozinha, subo na bicicleta e sigo para o trabalho.

Agora são duas da tarde; e a fome me enche a paciência. Pauso o trabalho e desço até o mercado público pra comer qualquer coisa. No mercado existe uma barraquinha dessas, um box, que vende sucos muito baratos. Nem tão baratos assim porém baratos. Também não é a única barraca a vender sucos, a maior parte desses estabelecimentos do mercado público da cidade vende sucos, e salgados gordurentos de todo o tipo. A questão é que esse lugarzinho que vou é o menos imundo deles, e vende o suco 25% a baixo do preço. Fui até o mercado pra comer qualquer coisa e tomar um suco. Escolhi um suco de laranja e dois pastéis sequinhos de carne; eu sempre tomo suco de laranja pois ouvi, não lembro bem aonde, que falta de vitamina C causa escorbuto e desde então tenho sentido umas dores e inchações estranhas na gengiva. Eu sempre escolho suco de laranja quando tenho de tomar um suco. Comi os patéis e bebi o suco, o suco não tão mal e os pastéis não tão sequinhos. É possível suportar até as cinco horas da tarde com isso na barriga.
Porém, nessa banquinha do mercado há também algo além das outras coisas ordinárias, algo mais que me atrai até lá: suas duas atendentes; existe um homem também no lugar, atendendo, um tipo sério e de poucas palavras e que nunca sai do recinto; recebe o dinheiro, anota os pedidos, mas fala muito pouco e vai sempre direto ao ponto, sempre à cara fechada - meus sucos de laranja ele espreme com uma agilidade impressionante usando aqueles espremedores elétricos; com as duas mãos ele corta as laranjas e com uma apenas ele espreme a fruta, põe no liquidificador o sumo, mistura ao gelo e serve em copo americano largo. Mas esse cara não me interessa muito, o que me põe curioso são as duas atendentes...

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